Estiagem
Seca de barragens e água imprópria afetam abastecimento de Canguçu
Precariedade na qualidade o recurso natural é realidade há três meses, conforme moradores
Foto: Divulgação - Situação na Barragem do Moinho é de seca extrema
Por Victoria Fonseca
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(Estagiária sob supervisão de Vinicius Peraça)
A estiagem somada à precariedade de água própria para consumo está atingindo os moradores de Canguçu. Com três barragens do Município secas, até segunda-feira (27) a alternativa foi recorrer ao arroio do Pantanoso. No entanto, o local só tem capacidade de fornecimento por uma semana. Enquanto não há volume de chuva para recuperar parte dos reservatórios, a solução é contar com o apoio de caminhões pipa de Rio Grande. Por dia, serão necessários cem veículos para atender a demanda da cidade.
Canguçu passa por situação preocupante no abastecimento de água. Na sexta-feira (24), a diminuição no volume das barragens chegou ao nível mais crítico, nos locais que continham grandes volumes de água, agora é possível ver somente terra seca em volta de uma pequena extensão de profundidade rasa. O quadro é ainda mais difícil, pois conforme os moradores, há cerca de três meses, além da falta do recurso natural ser constante, quando o fornecimento é retomado, a água geralmente é imprópria para consumo.
Residente da área urbana do Município, Rosângela Pereira, diz que os caminhões pipa não estão dando conta da demanda. A aposentada conta que a falta de água é realidade diariamente e que quando o serviço é normalizado não resolve o problema, já que a presença de resíduos e cheiro forte impedem o consumo. Diante das circunstâncias, a única fonte para os moradores está sendo uma nascente, que ainda não secou. Conforme Rosângela, o local é utilizado por toda a população, por ter uma água aparentemente limpa. "Sábado e domingo eu fui buscar 20 litros lá. A água de lá é muito melhor que a da Corsan. Mas tem que ir de carro e enfrentar uma fila", relata.
A moradora denuncia ainda que além da estiagem, outro problema que estaria atingindo os reservatórios são os vazamentos constantes por toda cidade. "Essa água do abastecimento está indo fora. Eles consertam hoje, amanhã estoura de novo ", afirma.
Contrato vencido e falta de infraestrutura
Conforme o vereador Jardel Oliveira (PSDB), parte do problema ocasionado pela estiagem e a falta de qualidade da água se deve a não renovação do contrato da Prefeitura de Canguçu com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). A formalização teria vencido há cerca de seis anos e mesmo assim o serviço continua sendo prestado normalmente, no entanto, o parlamentar alega falta de investimento e manutenção adequada.
"Não tem serviço de qualidade, água escura com gosto e cheiro ruim, toda hora faltando, canos furando. A preocupação da população já é de muito tempo, agora tem a questão da estiagem e a barragem está daquele jeito", diz.
Oliveira afirma ainda que há anos o legislativo pauta a renovação do contrato, principalmente, pois a partir dele um projeto de construção de uma nova barragem no Arroio Pantanoso, seria cobrada da Corsan.
O que diz o executivo
Ainda na segunda-feira (27) uma comitiva da Prefeitura e do legislativo canguçuense estava em Porto Alegre para reuniões com a Corsan acerca da situação. De acordo com o vice-prefeito Cledemir Gonçalves (MDB), inicialmente, não será adotado algum tipo de racionamento, sendo o abastecimento com caminhões pipa de Rio Grande, o que já havia sendo realizado no interior, adotado para o Município todo. "A alternativa no momento é buscar água em outros municípios, para não chegar o ponto de racionamento".
O gestor diz que o serviço não é o ideal, mas no momento é a forma encontrada de amenizar o problema, enquanto contam também com a esperança de que parte dos reservatórios sejam recuperados nos próximos dias. Além disso, o executivo estaria trabalhando em busca de represas nos arredores de Canguçu. "Apontamos para Corsan uma represa há 13 quilômetros da cidade que tem três hectares de água", cita.
Sobre a questão do contrato vencido, Gonçalves diz que o motivo é devido a um processo de terceirização que a companhia estaria passando. "O contrato venceu realmente há alguns anos, mas a Corsan segue fazendo seu trabalho". O vice-prefeito diz ainda que a demanda por mais equipes de reparos foi levantada para a manutenção dos vazamentos no Município.
Precipitação normal para época
Segundo medições do Inmet, durante o mês de janeiro choveu 132,4 milímetros em Canguçu e em fevereiro o volume foi de 93,6, números considerados normais para o período do ano na região, conforme o meteorologista, Aleff Matos. Para a região urbana, a precipitação é usual, no entanto, o problema é no interior do Município, onde as chuvas são mais escassas. "Houve lugares em que choveu menos de 50 milímetros em janeiro e fevereiro".
Corsan pede uso responsável da água
Em nota, a Corsan afirmou que está utilizando soluções emergenciais para garantir o abastecimento de água em Canguçu, pois as barragens que normalmente abastecem a cidade estão praticamente secas. Em razão dessa baixa nos níveis, a Companhia está utilizando dois recalques emergenciais, ambos já acionados em estiagens anteriores: o do arroio Pantanoso e o do açude do Distrito Industrial.
A Corsan informou também que o desabastecimento no último sábado ocorreu devido a uma manutenção necessária no recalque do açude do Distrito Industrial. "Neste momento de grave estiagem, a Corsan solicita que a população evite desperdícios de água e adote atitudes como: tomar banhos curtos; molhar as plantas com regador; não lavar a calçada; não lavar o carro", diz um trecho da nota.
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